Arrependimento

Devia ter teu corpo nu coberto de vermelhas pétalas de rosas
nas noites em que solitária no seu quarto o frio vinha te tocar,
devia ter versos exagerados de amor escrito nas paredes do meu quarto vazio
sempre que a sua falta a solidão vinha me lembrar,

devia minhas noites ao seu lado em claro ter passado
apenas para seu angelical dormir mais ter admirado
e devia em todas as minhas tardes solitárias de sábado ter dormido
somente para que nelas com você pudesse ter sonhado,

devia ter com minhas mãos o sol eclipsado
para que seus primeiros raios o seu sono não viesse perturbar
e devia ter com meus dedos teu cabelo penteado quando,
depois de nossas noites infinitas, da minha cama você vinha se levantar,

devia ter te abraçado mais forte
e sempre com três beijos me despedir para dar mais sorte,
devia ter teu nome tatuado no peito,
ter tornado mais doce o meu beijo
ter falado menos para sua divina voz mais ter escutado,
ter contado mais piadas para seu lindo sorriso mais ter contemplado,

devia o mais formoso anjo do céu ter derrubado
somente para ao mundo ter provado
que nem mesmo no céu ser mais belo que você foi criado.

Devia ter corrido pelas ruas à noite
acordando com meus gritos de “eu te amo” a cidade sonolenta,
como numa cena piegas de cinema,

devia as maiores colinas ter escalado
e matas virgens desbravado,
onde somente lá pudesse encontrar
a mais rara orquídea para teus cabelos enfeitar,

devia uma banda ter montado, escrito uma canção de amor
e à janela do seu quarto um show ter realizado,
apenas para essa canção a você ter dedicado,

devia de assalto uma rádio ter tomado,
arma em punho e discurso ameaçador a vociferar,
somente para ao locutor obrigar
as suas músicas favoritas tocar,

devia menos vinho ter tomado, menos ter me embriagado
e por mais tempo lúcido ter ficado
para que pudesse ter certeza da perfeição que eu tinha encontrado...
Porém, somente quando o vento te levou é que percebi
o quão maldita minha inércia foi.

E de todos os feitos que eu deveria ter realizado,
de todo o amor que eu devia ter externado,
por mais magoado que agora me sinto por não tê-los concretizados,
foi justamente meu único ato real que mais me deixou consternado:

foi aquela lágrima, que por mais que tenha lutado
não consegui impedir de ao solo ter derramado
quando percebi que você tinha me deixado.