Admiração

A cada passo que damos na vida
deixamos um pedaço de nós pelo caminho.
A cada amor um pedaço do nosso coração,
a cada abraço um pedaço da nossa liberdade,
a cada sorriso um pedaço de felicidade,
a cada decepção um pedaço dos nossos sonhos,
a cada pesadelo um pedaço das nossas fantasias,
a cada mágoa um pedaço das nossas ilusões,
a cada lágrima um pedaço da nossa ingenuidade.
E a cada um desses passos
rasgam nossos pés os espinhos desta estrada,
sangram nossa alma,
mutilam nosso corpo,
fazem escorrer suor e lágrimas,
mas por maior que seja o suplício,
continuamos caminhando,
deixando para trás um rastro de sangue,
de dor,
memórias,
sentimentos,
desilusões,
mas ainda assim, persistentes,
continuamos caminhando,
rastejando numa fuga desesperada da dor que sentimos
na esperança doentia
de que há algo que valha a pena alcançar
se continuarmos.
E enfim, no final desta jornada
percebemos que alcançamos
somente aquilo que nos sangrou,
o amor,
os abraços,
os sorrisos,
as decepções,
os pesadelos,
as mágoas,
as lágrimas.
Mas ao fim desta odisseia,
quando cansados e quase mortos
nos vem à mente que a viagem
não tenha valido a pena,
olhamos pra trás e nos deparamos com a verdade: 
uma trilha de pedaços pútridos por nós deixados,
tecidos em decomposição,
sentimentos mortos,
lembranças dolorosas,
amores eternos sepultados,
mas ainda assim,
por mais repugnantes e algozes,
pedaços de nós.
Deve ser por isso que
no nosso último suspiro nessa vida,
ao olharmos para trás,
achamos esta tortuosa estrada tão bela.