Distimia

Você acorda já pensando em se matar
e deitado na cama fica por alguns minutos
tentando encontrar um motivo para se levantar.
Quando enfim, mesmo sem objetivo se ergue,
caminha ao banheiro, lava seu rosto, se olha no espelho
e se questiona se esta é a última vez que o verá.
Liga a cafeteira, bebe seu café sem perceber que esqueceu de o adoçar,
sem nenhuma fome empurra o pão pela boca,
o tempo passa sem você notar
e logo depois percebe que já está atrasado,
esquece a cafeteira ligada e sai de casa apressado para o trabalho
se perguntando o porquê de trocar
8 horas diárias de 5 dias por semana de sua vida
por um salário que vai te endividar.
Chega ao trabalho, dá bons dias e boas tardes com um sorriso forçado,
atende telefones e digita mecanicamente,
conserta máquinas que não entende como funcionam,
dá respostas sem entender ao certo as perguntas,
tudo parece sem propósito
e sob o frio do ar condicionado, pela janela
vê o sol lá fora num céu sem nuvens a brilhar.
Horas depois dá boa noite a todos
mesmo sabendo que boa contigo ela não será,
isolado no seu universo hermeticamente fechado por seus fones
volta pra casa num ônibus lotado como se fosse o único nele,
desce no ponto, sobe as escadas e entra em sua casa vazia
onde apenas o fedor de cinzeiro está a te esperar.
Em algumas noites janta, em todas as noites bebe,
paga caro em vinhos baratos,
se embriaga até se nausear
e sozinho no seu quarto, bêbado,
passa as madrugadas a parede branca olhando
como se nela sua alma fitasse
à procura de algum motivo para viver encontrar.
Não entende porque nada o alegra,
nada o interessa, nada o emociona,
não vê futuro, não há objetivos,
não entende porque continuar
mas já amanhecendo dorme sem sono, pois em breve novamente terá de trabalhar
e em poucas horas mais uma vez acordará
pensando em quando terá coragem para se matar.