Um dos acontecimentos que mais me
impressionaram na minha adolescência e que carrego na lembrança até hoje foi o
fim que Jorge teve. Jorge era um amigo da família e sempre me pareceu uma pessoa alegre, era divertido e espontâneo, sempre a fazer piadas. Até que o dia em que eu soube do
seu suicídio.
Ele trabalhava numa farmácia e
foi nela que Jorge pôs fim à sua vida. No depósito do estabelecimento, amarrou
uma ponta de uma linha de pesca no teto do almoxarifado e a outra ponta em seu pescoço. Porém, havia um
empecilho: o teto do depósito era baixo demais para manter Jorge
suspenso do chão. Mas ele, decidido sobre o que queria, superou as adversidades e conseguiu encontrar
uma solução: com a linha amarrada em seu pescoço, dobrou os joelhos e assim
ficou, suspenso no ar, a linha rasgando sua pele enquanto seus pulmões
imploravam por ar. Mas apesar da dor, Jorge manteve essa posição até a morte o levar ou, ao menos, até perder a consciência e
deixar que o peso do seu corpo inerte concluísse o trabalho.
Guardo até hoje essa história como o maior
exemplo de força de vontade que já conheci.