Decisão

Rasgo meus pulsos nesta noite de libertação!
Da ferida aberta jorra a putrefação,
tesão da biologia,
essência e resquícios de um ser que nada foi.

Pela janela fechada vejo o paraíso do nada aflorando,
o fim de uma história inacabada,
mais uma lembrança a ser esquecida pelo mundo,
mais um trauma a ser superado por Deus.

Sem mais sorrisos, sem mais choro,
sem mais angústias ou esperanças,
apenas o nada absoluto me esperando,
mais sereno que o nada da vida.

Sem glórias e sem decepção
termina uma jornada sem fim que nunca começou.
Nada é o que almejo.
Nada mais a desejar.

Os pregos já estão cravados nos meus pulsos,
agora levanto minha cruz.
Ponha vinagre em minha boca,
crave sua lança nas minhas costelas,
mas não me aguarde no terceiro dia:
não tenho porque voltar.

A visão se turva,
diante da luz de um novo dia que não consigo enxergar.
Mais uma rotina do sol
que me orgulho nunca mais apreciar.

Não me arrependo do último gole que não dei,
o último cigarro que não fumei,
ou do último orgasmo que não alcancei.
Arrependimento somente pela demora
desta última decisão que tomei.