Prazer

Recebeu seu soldo e sorriu,
apanhou seu paletó e sem se despedir saiu
e mal chegando em casa, recolheu suas economias
e sem lavar-se ou barbear-se, partiu.

Entrou no primeiro puteiro que viu,
pagou pelas putas que preferiu,
acendeu um cigarro, refletiu
e mandou todas suas responsabilidades para a puta que o pariu.

E pela noite inteira cantou e sorriu,
comeu e bebeu,
amou e transou,
divertiu-se e cantou,
telefonou para seu antigo amor e se declarou,
ligou para seu chefe e o amaldiçoou,
fez amigos e inimigos,
contou histórias e chorou,
ouviu histórias e se alegrou
e pela madrugada inteira festejou
até o momento em que a dona do lupanar,
no amanhecer do dia e com as prostitutas já cansadas,
do prostíbulo o expulsou.

Satisfeito, caminhou pelas ruas cambaleante,
com o litro de whiskey na mão entre aos transeuntes errantes,
sem um tostão no bolso mas com um sorriso irradiante
e na sua  casa chegou.

Acendeu outro cigarro,
abriu a janela e o sol de um novo dia nascendo admirou,
até o momento em que um tiro pela vizinhança se escutou
e a bala do seu revólver a sua cabeça atravessou.

E por muito tempo conjecturou-se sobre atitude tão violenta
vinda de uma pessoa tão terna,
mas o que nunca descobriram foi que esta
fora a única maneira que ele encontrou
para tornar a melhor noite de sua vida eterna.