Lembrança

Preencho minhas noites insones
relembrando meus dias vazios.
Vazios de amor e de esperança,
vazios de razão.

E por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Ainda me rodeiam as lembranças
como moscas sobre um corpo em decomposição.

Busco na escuridão do meu quarto
o sorriso que nunca mais me alegrará,
o abraço que nunca mais me aquecerá
e a paz que eu nunca mais experimentarei.

E por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Ainda me rodeiam as lembranças
como moscas sobre um corpo em decomposição.

Cansado de nada encontrar,
fecho os olhos esperando o sono vir me buscar,
na esperança de que consigo traga um sonho
que faça o pesadelo desta realidade cessar.

Mas por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Ainda me rodeiam as lembranças
como moscas sobre um corpo em decomposição.

Levanto-me, tentando fugir deste torpor
e acendo um cigarro como distração.
Mas a nicotina me lembra o gosto de sua boca
e de seus beijos que meus lábios não mais sentirão.

E por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Ainda me rodeiam as lembranças
como moscas sobre um corpo em decomposição.

Acendo a luz e tento um livro ler,
mas, malditos poetas românticos, os versos relembram minha paixão
e com eles vem a recordação
da minha desgraçada solidão.

E por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Ainda me rodeiam as lembranças
como moscas sobre um corpo em decomposição.

Resignado, apago a luz e volto a me deitar.
Desisto de esquecer e me deixo na escuridão afundar.
Deitado como um cadáver em seu ataúde
já desisti de lutar.

Pois por mais que eu tente, meus esforços são em vão.
Se as lembranças ainda me rodeiam como moscas
é porque sou um homem em decomposição.